segunda-feira, 19 de março de 2012

"moda criativamente autônoma"...


Segue abaixo e na íntegra o meu feed back e depoimento de participação no evento "Ocupação Moda Cultural" que ocorreu este ano na cidade do Recife de 04 a 17 de Fevereiro e, para mim, foi emblemático para a área de uma maneira geral...

O meu nome é Caroline Monteiro Jacintho de Oliveira - já assinei também como Carol Monteiro, mas depois de algumas confusões entre eu e a outra Carol, que é hoje a gerente de moda da Prefeitura do Recife, resolvi assinar Oliveira.

Eu nasci em João Pessoa, morei anos em Salvador e em 2004 cheguei ao Recife para trabalhar na Luni Produções.

Desde então, sempre estive conectada com a área cultural da cidade. Na moda, eu comecei a atuar, efetivamente, em 2005 com uma marca de roupas então chamada de espelho meu. A minha sócia nessa marca (Camila Ferza) e eu chegamos a fazer 2 coleções oficiais entre "inter-coleções" paralelas, além de alguns eventos culturais de moda. Nós vendíamos, oficialmente, na Moda Nacional e Bendito Fruto (esta última de Carol Monteiro)- ambas localizadas no
Paço Alfândega, mas vivíamos divulgando, prospectando e correndo atrás de clientes de maneira bem pessoal para tentar sustentar "o sonho" de viver da criação, produção e venda de peças de roupas exclusivas e "não standartizadas"... 

No entanto, em determinado momento começaram a surgir "os nós e os contras": falta e muita dificuldade com a mão de obra terceirizada das poucas modelistas e boas costureias que existem na cidade e não estão empregadas em "fábricas de linha de montagem de reprodução da moda midiatizada"; nenhum apoio institucional ou financeiro para que pudéssemos levantar um capital de giro na produção de nossas pequenas e personalizadas "coleções de moda mais culturais do que comerciais";
dificuldade de fazer as nossas criações "ganharem o mundo e o corpo das pessoas", uma vez que o nosso produto encarecia demasiadamente ao entrar nas lojas voltadas pro mercado comum; nenhum evento cultural, de fato, produzido pelo governo e/ou prefeitura que tivesse a proposta de mostrar o que boa parte dos criadores locais andavam fazendo... enfim, muitos contras e quase nada a nosso favor ou que nos desse suporte para que continuássemos nos expressando culturalmente pela criação de vestimentas, produção de moda e figurino e ao mesmo tempo pudéssemos honrar nossos compromissos financeiros.

Camila Ferza desencanou da área de estilismo e foi trabalhar com produção de desfiles e cia. Hoje vive no Rio de Janeiro e morre de vontade de voltar para a sua terra. Eu ainda me determinei por volta de 2006 com uma nova marca chamada Alinhada. No entanto, depois de 3 coleções e 1 gravidez, percebi que precisava ampliar meus interesses profissionais e reconfigurar a amplitude de atividades da marca se não quisesse, literalmente, "ficar over" nas minhas finanças!

Enfim, como esse relato é sobre o Ocupação Moda Cultural e eu não posso me estender muito, com receio de não ser lida e/ou soar pessoal por demais, vou deixar as entrelinhas da minha trajetória para outro momento. Mas, não sem reforçar antes o quanto também é importante dar o meu "depoimento e feed back personalizado", uma vez que a minha produção de vestimentas - e acredito que de muitos outros profissionais da área com modos de atuação parecidos -  sempre esteve estritamente conectada ao meu repertório de vida e cultura.

O Ocupação Moda Cultural, na minha opinião, foi um marco, um divisor de águas na cidade do Recife no que diz respeito a cultura de moda pensada, produzida e vendida por aqui. Foi um evento que fez jus ao nosso potencial: investiu dinheiro público na estruturação e ambientação de um espaço que dialogou estetica e reflexivamente com o nosso trabalho e o apresentou a um público amplo e diverso!

A minha sensação no dia em que fui deixar as peças da Alinhada era de entusiasmo e comoção: tanto pela beleza e excelente organização proposta pelo evento, quanto pela possibilidade de, finalmente, ter alguma perspectiva financeira que valesse a pena num evento de moda fora do "mainstream mercadológico".

Também achei providencial os desfiles do Rec Beat serem deslocados para lá, pois trouxe
mais dignidade e impacto ao que se é apresentado dentro de desfiles de moda não convencionais- que agora foram realizados num contexto, especialmente, moldado para "enriquecer o olhar" em relação as propostas estéticas expostas.

Eu ainda não sei quais são as perspectivas de continuidade, multiplicação e/ou a permanência de um espaço para a moda cultural neste formato aqui em Recife - que repercutiu tão positivamente em "nomes e números", mas espero que a Prefeitura (principal apoiador) como também o governo tenham sentido o impacto e a importância de considerar esse tipo de "moda criativamente autônoma" feita aqui como uma expressão e linguagem cultural (cadê a nossa rúbrica nos editais de fomento?!!!) que também multiplica a pluralidade cultural do estado.


 

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